sexta-feira, 1 de julho de 2011

O POEMA NASCE

O poema nasce
Misturando sonhos
Juntando emoções
Sentimentos
Que vão preenchendo
O espaço vazio
De qualquer página
Em branco

E num bailado
Sempre renovado
Cada letra procura
O lugar destinado
Dando forma à poesia
Desbravando ideias
Acertando rimas
Ao compasso
Do espaço
Que dá vida e cor
Ao deslumbramento
Vivo da escrita

E o poema nasce

quinta-feira, 30 de junho de 2011

LÓGICA

A terrível verdade lógica
De tudo que é real
Introduz-nos no universo
Que recusamos aceitar.
E porque sabemos
Que dois mais dois
Serão sempre
E eternamente
Quatro,
Números vazios
Desprovidos de sentido,
Recusamos a imposição
Fria dos sábios
E preferimos vaguear
No irreal.
E, quando sentimos
Que um mais um
De mãos dadas
Se despem de toda
E qualquer lógica,
Criamos um universo
De números coloridos
Somando carinho
Ávidos de multiplicar.
Então...
A matemática
É um poema
Descrito
Na linha imaginária
Que nos leva ao infinito
E nos transpõe
Através de pontos
No movimento de paralelas
Que nascem das raízes
Que criamos
E formamos
Um quadrado perfeito
Correndo num universo
De números transformados
Com amor

CAIS DA SOLIDÃO

Encontrei-te no cais
Da minha imaginação
Estavas à espera de ti
Desembarcámos
A solidão

Os dois
Tomámos a carruagem
Que nos trouxe aqui

Continuámos a viagem

CAIR DE TARDE SOL POSTO

Neste cair de tarde já sol posto
Em liberdade sorris docemente
Lembrança daquele velho Agosto
Era em nós ainda sol nascente

De mãos dadas sorriso no olhar
Desbravámos ruas da cidade
Espalhámos os corpos ao luar
Grito abafado de liberdade

Quantas vezes ao olhar o tempo
Vi-te partir desfeito em água
Maré alta mar de sofrimento

Da separação então imposta
Ficou em nós a grande mágoa
De não encontrarmos a resposta

AMANHECER

Quando as estrelas
Apagam as luzes
E se vestem de sol
O amanhecer
Cheira a terra
Despertada
A aurora nasce
Límpida e pura
Puxando da terra
A força do dia

Ergue-se o Homem
Avança o sonho
Na arquitectura do tempo
Que transforma o plano
De qualquer caminho

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

RECORDAÇÕES DO TEJO

O Tejo recorda-me
A fita de seda azul
Brilhante e bem engomada
Que usava
Nas minhas tranças de menina

Foi num tempo
Em que o arco-íris baloiçava
Nas ondas que eu admirava
Da janela da velha casa

O Tejo era a estrada
Corrente de navios
Rota de sonho e saudade

Tanto olhei o rio
Que meu olhar
Transbordou no mar

Dentro de mim ficou sempre
Um barco a navegar

PLANÍCIE ALENTEJANA

Na calmaria da planície
Alentejana
Nasce o sossego do tempo.
O ar é branco
O silêncio absoluto
Nas tardes ardentes
Que nos fixam à terra

Já o cântaro passou
De boca em boca
Refrescando a palavra
Que não se escuta

O olhar no horizonte
Traz-nos o passado
Relembrado na dor
Da ausência dos seres
Que o tempo levou

Caminhamos em grupo
Ao som do canto dorido
Que nos une na esperança.
No verde das searas
Corre o silêncio
De cada palavra
Que fica por dizer

E as flores renascem sempre
Ainda que sós
No fogo ardente
Da planície Alentejana

domingo, 6 de fevereiro de 2011

TELHADOS DE LISBOA

Sobre os telhados de Lisboa
Espreguiça-se o sol
Tão calmo
Tão brilhante
Tal espelho
Reflectindo azul
De um rio
Que desliza
Para o mar.
Sobre os telhados de Lisboa
Há ecos
De guitarras
A trinar.
Sobre os telhados de Lisboa
Passa a brisa
Silenciosa
Das aves.

SOL DE LISBOA

Cantar este amanhecer
Que cresce na cidade
De sol derramado
Pelos telhados

Que acorda gaivotas
Abre janelas
Corre pelo rio
Rompendo o véu
De neblina

Mergulha no mar
E deixa um rasto
De maresia
Que sobe as colinas
E veste Lisboa
De varinas

INVENTEI UMA CIDADE

Inventei uma cidade
Onde os homens não têm cor
A alma é transparente
Corações sorriem
Livremente

Inventei uma cidade
Onde a palavra
Grita o que sente

Inventei uma cidade
Com risos de criança
Em jardins de brincar

Inventei uma cidade
Que se passeia
Vestida de esperança

Inventei uma cidade
Onde o medo passa ao lado
E dá espaço à liberdade

E inventei um rio
Para transportar o sonho
E encher o mar
Que vem banhar
A minha cidade

sábado, 5 de fevereiro de 2011

NOITE DA CIDADE

Na noite da cidade
Onde as luzes se confudem
Com o brilho das estrelas
Vultos vagueiam
Nas ruas desertas
Repletas do sonho
De um dia que passou
De um tempo de vida
Que agora findou

Na noite da cidade
Já as luzes deixaram de brilhar
Já se ouvem as alvoradas
Do novo dia a chegar
Já só existem as estrelas
Que cada homem transporta
Em seu olhar

A ESPERA

E no meio da solidão
Há sempre um lenço
A acenar

A espera é longa
Mas virá o tempo
De encontrar

O que naufragou
Na imensidão
Do mar

ALFAMA

Alfama
Amor e mar

Pecado marés
Maresia de sal

Corpos queimados
Cansados
De navegar

Janelas fechadas
Sonhos proibidos
Amores escondidos
Pelas ruelas

Balões pelo ar
Cravos nas janelas
Em noite popular

E o Tejo espreitando
A caminho do mar